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terça-feira, 1 de maio de 2012

Uma espécie de funcionário público II


         A Gabriela era uma rapariga graciosa e bonita, bem constituída fisicamente, embora um bocado anafada. Era a mais jovem funcionária do cartório e a primeira mulher a integrar aqueles serviços, excepção feita à penúltima conservadora que por ali passara, uma velha feia, seca e má como as cobras que bem podia dormir debaixo de um espigueiro que ninguém lhe pegava.
         Era natural de Oliveira do Douro e foi ali colocada após realizar um estágio nas Caldas da Rainha. Solteira, foi viver para um pequeno apartamento situado no mesmo prédio onde o senhor Antoninho tinha o dele, cuja renda repartia com outra rapariga que trabalhava num supermercado da localidade.
         Apresentava-se sempre ao trabalho com pontualidade, muito bem disposta e arranjada, exagerando algo no perfume barato e também, frequentemente, no escasso comprimento da saia, deixando antever umas pernas grossas e bem torneadas que atraíam a atenção do senhor Antoninho, muitas vezes surpreendido de olhos fitos naquela magnífica obra da natureza, o que parecia não a incomodar absolutamente nada.
         Desde que ali chegou a menina Gaby não se cansava de elogiar o saber e o prestígio granjeados pelo senhor Antoninho e era a ele que recorria sempre que tinha algum assunto mais delicado para resolver. O senhor Antoninho é um anjo que apareceu no meu caminho, o que seria de mim sem o senhor Antoninho, não sei como lhe agradecer tudo que tem feito por mim, o senhor Antoninho isto, o senhor Antoninho aquilo… de tal forma que o senhor Antoninho até chegava a ficar embaraçado e a corar como um adolescente.
         O zeloso funcionário bem tentava ficar indiferente ao fascínio que a nova colega exercia sobre si mas não era capaz. Algumas vezes até teve de fazer de conta que ia à casa de banho, apertando bem o casaco para disfarçar a excitação que o volume do órgão sexual denunciava sob a braguilha das calças. Voltava depois de passar água fresca pelo rosto e beber umas goladas, reposta a habitual compostura que lhe granjeara o respeito e estima do público e demais colegas de trabalho mas a Gabyzinha, a quem aquelas escapadelas não passaram despercebidas, voltava à carga: o senhor Antoninho não se sente bem? Veja lá se quer que lhe vá buscar um chazinho! Olhe, precisava da sua ajuda aqui neste processo…
         Tudo aquilo incomodava muito o senhor Antoninho mas, simultaneamente, também lhe aflorava sentimentos recalcados, algo que com a Dorinda nunca lhe acontecera a não ser nas vésperas do casamento e pouco mais. As frequentes erecções que a simples visão daquela mulher lhe provocava faziam ressuscitar nele o instinto varonil há muito contido e alimentou intimamente um forte desejo de possuí-la mas a sua inexperiência nessa matéria obrigava-o a repudiar esses pensamentos pecaminosos dizendo lá para si que era o demónio a tentá-lo.
         E como o demónio não é homem para desistir dos seus intentos, a oportunidade tão intimamente desejada acabaria por surgir quando menos era de esperar.
         Como já foi referido acima, o senhor Antoninho possuía um apartamento no prédio onde habitava a sua nova colega de trabalho. Fora muito útil à família enquanto os filhos frequentaram o ensino secundário na vila mas depois disso raramente foi ocupado e só por lá passava uma vez por mês para verificar se estava tudo em ordem e ver o correio, quase sempre reduzido a contas e montes de publicidade. Foi por essa razão que naquele dia disse à Dorinda, antes de sair de casa, que chegaria mais tarde uma vez que iria passar perla casa da vila para ver o correio e aproveitava para consertar uma persiana que teimava em não fechar convenientemente.
         Terminado o expediente, o senhor Antoninho e a Gaby saíram ao mesmo tempo do local de trabalho e já no exterior do edifício iam despedir-se como era habitual. Foi então que o senhor Antoninho se lembrou: ah… hoje vou lá para os seus lados, tenho que fazer umas coisas lá no apartamento. Não quer uma boleia?
         Era bem perto mas já que iam para o mesmo sítio a Gaby aceitou. Foi rápida a viagem. Como era habitual, o senhor Antoninho verificou a caixa de correio, no que foi imitado pela colega, entraram no prédio, subiram os dois lanços de escada e despediram-se naturalmente, dirigindo-se cada um ao seu destino.
         Embrenhado na tarefa de reparar a persiana avariada, o senhor Antoninho nem deu conta de alguém ter batido à porta. Mas logo que o telemóvel soou foi atender. Ai, senhor Antoninho, pensei que já tinha ido embora, estive a bater à porta mas como não atendeu fiquei aflita. Então? Algum problema? Sim, tenho o esgoto do lava louça a deitar água para fora e se me pudesse dar um jeito ficar-lhe-ia muito grata…
         Sempre solícito, o zeloso funcionário, homem dos sete ofícios, dirigiu-se de imediato para casa da sua colega com a caixinha das ferramentas. A Gabriela esperava-o, sorridente, na porta do pequeno apartamento, mais provocante que nunca. Tinha tomado um refrescante duche e vestia uma estimulante camiseta de dormir preta, cingida ao portentoso corpo que parecia agora maior do que no local de trabalho.
         Ora então vamos lá ver a avaria, com licença... A Gabriela fechou a porta e dirigiu-se para a cozinha seguida do improvisado canalizador que, perante aquela visão e aspirando um inebriante perfume que emanava daquela mulher, já reagia mais por instinto do que racionalmente. E quando a Gaby apontou para debaixo do lava-loiça e lhe disse que o local da avaria ficava ali demorou uns segundos a reagir: ah, sim… ali…
         Abaixou-se para averiguar a avaria mas fazia escuro e precisava deitar-se de costas, como fazem os mecânicos de automóveis para fazer verificações debaixo dos chassis. Sentou-se no chão, contorceu-se para ficar em decúbito dorsal e esticou-se espreitando para dentro do armário. Pediu à Gabriela que abrisse um pouco a torneira para ver onde ficava a ruptura na canalização.
         A rapariga para aceder à torneira abriu as pernas, desinibida, sobre o peito do senhor Antoninho e… oh céus, que visão tão perturbadoramente encantadora! A Gabriela estava sem cuecas, perfeitamente despojada de pêlos púbicos e a fenda vaginal, de onde emergiam, rosados e húmidos, os pequenos lábios, estava ali na sua presença, esplendorosa. Nada que se comparasse ao bicho cabeludo, cinzento e por vezes mal cheiroso da Dorinda. A vulva da Gaby parecia uma rosa a pedir que a colhessem.
         O improvisado canalizador conteve-se estoicamente, apertou a junta do cano que deixava escorrer as águas provenientes do lava-loiça e levantou-se, compondo o vestuário. Pronto, está resolvido… Num gesto espontâneo a graciosa Gaby atirou-se-lhe ao pescoço e exclamou: obrigado, senhor Antoninho, o senhor é um anjo…
         Foi o fim da resistência do homem. Instintivamente abraçou aquele corpo macio e sedutor, passou-lhe a mão pelas nádegas e beijou-a calorosa e atabalhoadamente. A Gaby correspondeu às carícias do homem de modo a excitá-lo ainda mais e tudo se precipitou.
         Sem perda de tempo, o senhor Antoninho voltou a rapariga para a bancada, desapertou atarantadamente o cinto, baixou as calças e, segurando o pénis com a mão direita apontou-o àquela gruta ávida e desejosa. Mas então surge um problema: o falo que deveria estar túrgido e hirto como um bastão curvou como se fosse de gelatina e permaneceu flácido e sem reacção, recusando-se a penetrar na vagina que tão generosamente se lhe oferecia. O homem bem tentou reanimá-lo com a colaboração da mão da fogosa jovem mas debalde. Desistiu, envergonhado, pediu mil perdões e preparou-se para sair, cabisbaixo, apesar do consolo da rapariga que lhe disse para não desanimar, que compreendia perfeitamente e que podiam tentar mais tarde porque a colega de casa trabalhava até à meia-noite.
         Mas já nada podia mitigar a enorme frustração do senhor Antoninho. Envergonhado, apressou-se a sair para a rua, entrou no seu automóvel e começou a circular sem destino, atónito com o que lhe acabara de acontecer.
         Como seria possível? Tantas vezes tivera de refrear o ímpeto ao seu órgão sexual e agora que surgira a oportunidade tão desejada negava-se? Seria algum problema da próstata? A velhice não podia ser, tinha pouco mais de cinquenta anos e sabia de casos de homens que conseguiam ter uma vida sexual normal até aos oitenta ou noventa, ou mais ainda… Pelo menos “de língua”, como se dizia naquelas conversas de café…
         Parou num local sossegado a caminho de casa e pôs-se a reflectir sobre o acontecimento. Próstata não deveria ser. Tinha feito análises clínicas não havia muito tempo e o antigénio específico da próstata (PSA) apresentava um resultado normal. O que se teria passado? Depois de muito cogitar concluiu que só poderia ser ansiedade. Na verdade nunca conhecera outra mulher, a não ser a jovem fula de que se servira quase todo o pelotão quando fizeram um ataque ao aldeamento onde se acoitavam os “turras”. Por isso estava tão obcecado com aquela aventura que mais parecia uma virgem na hora da desfloração. Por fim acabou por se auto convencer que melhor fora assim. A Dorinda não merecia que lhe pusesse os cornos e, além disso, ainda estava em bom uso. Foi para casa.